Vasculho, por entre as
mensagens da minha caixa de e-mails, à procura de uma reposta dela
para uma pergunta que eu nunca enderecei a ela. Nem bem cheguei a
formular uma pergunta tal, mas um vazio intimidador dentro de mim,
pede-me que espere pela resposta-alguma.
A solidão é um prazer
que convém degustar às custas da inestesia. Enquanto procuro
sentir, uma sensação qualquer que conforte a ideia de que o corpo é
vivo e ininterrupto, que precisa sentir a todo momento, descubro que
as sensações não se formam por dentro. A demanda é, por isso
mesmo, o indicativo cabal de que algo me falta.
A mão estendida ao
lado ressente-se da ausência da mão outra que sobre ela se largue e
se prenda, como atendendo a um pedido jamais feito. Um corpo humano
está arranjado de tal forma que não se ajusta na anatomia
particular do indivíduo, sozinho, o encontro perfeito de uma mão
com a outra senão quando quer expressar demasiado: bater palmas;
oferecer reverência à divindade; estalar os dedos e insinuar algum
tédio; não aquele encontro em que a mão com a outra se basta; que
calaria o vazio; que vestiria a insegurança, toda insegurança; que
aceitaria e escolheria com o menor movimento ou nenhum.
Mas a mão vazia, ao
meu lado, se agita e com dedos inquietos procura por sobre o teclado
palavras-consolo, palavras sujas de imagens sujas, que os olhos
observam.
A mão é uma criança
confusa que, na ausência do gesto e conforto, procura por todo o
corpo; esgueira-se por dentro das calças e sente entumescer o falo
sob o seu toque; se põe ao redor e aperta; larga e acaricia;
esfrega; aperta.
A sensação é uma
resposta simples a um estímulo dado. Não é como a resposta-aquela,
a de uma pergunta não feita. E enquanto o vazio de dentro de mim
geme em sincronia com o gesto e o pudor da mão que labuta sobre o
pênis enrijecido, por sensações que se bastem; por um gemido a
mais; por um fremir do prepúcio e em torno da glande; por um
irradiar delicado a partir da pélvis e até o abdomen, a outra mão,
sozinha, testemunha com apatia.
A mão direita, então,
acelera. As sensações menores se integram e pedem ao corpo todo que
sinta. Eu sinto, pois sou o corpo e quero gozar - Conheço o
procedimento, não tenho que fingir pra mim mesmo.
Mas antes que uma
ejaculação mal calculada suje a mobília, me viro para o lado e
direciono meu pau à parede.
Um primeiro jato atinge
com violência um mosquito que se punha parado sobre a tinta branca,
e um segundo e terceiro o recobrem por inteiro, deixando-o grudado à
parede.
Irônico que ao invés
de fazer conceber uma vida, eu tenha dado cabo de uma outra, ainda
que insignificante seja. Aproximo meu rosto daquele mosquito para
olhá-lo de perto e vejo-o, sozinho.
Começo a rir eu mesmo,
também sozinho: Quais eram as probabilidades?!
Pouco importa –
solidão é circunstância e não poesia.
Não tem a menor graça.
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