segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

O coração do mundo




Andava pela rua cabisbaixo, cansado, faminto. A passada em stacatto das pernas articuladas em sincronia com os braços soltos, pendulares, e entre um lance e outro de vista, um pensamento em sincronia com o a fome dos desejos populares - aqueles mesmos do encanto com as imagens em tela.

Na sua frente, um aparelho celular chama sua atenção numa bancada num corredor de barracas enfileiradas, em uma zona de comércio ao ar livre, sem muros. Percebe-o ao mero alcance da mão. Poderia simplesmente pegá-lo, e, afinal, não basta apenas querer? Não, não basta… e retorna ele a olhar para o chão e, com a cabeça baixa, segue seu caminho. A esperaça de um futuro melhor em recompensa pelo comportamento “correto”, mantém a passada em curso - sem desvios ou imprevistos.

beatius est magis dare, quam accipere... A recompensa é a ilusão dos ovinos.


Não que o impulso seja a premissa de toda ordem de uma tal natureza, mas, muitas vezes, é a esperança o grilhão que convém questionar.  

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