Andava pela rua
cabisbaixo, cansado, faminto. A passada em stacatto das pernas
articuladas em sincronia com os braços soltos, pendulares, e entre
um lance e outro de vista, um pensamento em sincronia com o a fome dos
desejos populares - aqueles mesmos do encanto com as imagens em tela.
Na sua frente, um aparelho celular chama sua atenção numa bancada num corredor de barracas enfileiradas, em uma zona de comércio ao ar livre, sem muros. Percebe-o ao mero alcance
da mão. Poderia simplesmente pegá-lo, e, afinal, não basta apenas
querer? Não, não basta… e retorna ele a olhar para o chão e, com
a cabeça baixa, segue seu caminho. A esperaça de um futuro melhor
em recompensa pelo comportamento “correto”, mantém a passada em
curso - sem desvios ou imprevistos.
beatius est magis
dare, quam accipere... A recompensa é a
ilusão dos ovinos.
Não que o impulso
seja a premissa de toda ordem de uma tal natureza, mas, muitas
vezes, é a esperança o grilhão que convém questionar.
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