terça-feira, 23 de julho de 2013

Brecht para baixinhos




Eu, sentado no sofá em frente a um Pedro sério e cheio de autoridade que me observa de uma cadeira giratória com ares de oficiosa.

Pietra, segurando um coelho de pelúcia (supostamente seu filho), faz menção a sair do quarto (supostamente a casa) para levar o "filho" à "escola".

Nisso, seu "marido" (Pedro) dirige-se a ela, sem desviar o olhar que me enfrenta, e dá seu aval: "Vai! Enquanto isso eu converso aqui com seu tio." - E me convoca à brincadeira em referência cruzada sem que se desfaça a diegese que nos reúne no recinto: - "Você é tio dela, tá?"

Pietra, que já havia se retirado, retorna, em vista da necessidade de direção que se faz evidente, e me orienta: "Finge que você é meu dindo, tá?"

Eu, porque não pudesse deixar a realidade de lado (e não por entrega absoluta ao personagem, diga-se de passagem), afirmo: "Mas eu sou seu dindo!"

E ela: "Então, finge que você é meu tio!" - Eu, ainda: "Mas eu sou seu tio!"

Como alternativa última e uma vez a realidade sendo demasiado bruta e não suficientemente promíscua para dar conta das aspirações e nuances de seu imaginário, define assim: "Finge, então, que você é meu irmão!" - E sai do quarto para onde deverá voltar uma vez deixado o coelho na escola.

˜Tomara que ela volte logo!" - Pedro exclama, talvez, na ocasião de um desconforto fictício do anfitrião que é deixado à função de "fazer sala".

Eu, já então sugerindo entregar-me à peça, mas sem abandonar o cinismo adulto que me molda o caráter, faço a sugestão: "Vamos falar de economia, então?"

"O que é economia?" - coloca-me, Pedro, a par de sua honesta ignorância sobre o assunto, sem reconhecer que este lhe deveria ser familiar na posição, que ora ocupa, de homem da casa.

Tento explicar-lhe: "Quando sua mãe vai comprar comida, ela precisa de dinheiro. Por isso, vai todos os dias trabalhar, pois, no final do mês, alguém dará a ela dinheiro em troca desse trabalho. E todos, precisando de dinheiro, precisam trabalhar - a não ser aqueles que dão o dinheiro, pois eles recebem o dinheiro a custa das pessoas que trabalham para eles. Bom, o conjunto de todo o dinheiro, o dos que trabalham, como a sua mãe, mas também o dinheiro daqueles que não trabalham, como aquele que paga a sua mãe pelo trabalho que ela faz, isso é a economia."

Ele me olha por alguns segundos e se coloca a disposição de aceitar a minha explicação, com uma pequena condição: "Mas a comida é de mentira, tá?"

"Por que?"- eu pergunto.

E ele: "Pra não sujar a casa, ué!"

Um comentário:

  1. o que ele não sabe é que a porra toda no final das contas é de mentirinha

    ResponderExcluir